terça-feira, 24 de maio de 2011

Um Zumbi Apaixonado


O zumbi não sabia o seu nome, nem mesmo a mulher que estava sobre ele nesse exato momento. Por conta disso, e por conta da impessoalidade que existe em amar alguém que não tem nome, ela, bondosamente, passou a chamá-lo apenas de Z. Ele não tinha nenhum sentimento especial por esse nome - aliás, nem sabia para que servia. Mas para ela isso era de suprema importância.

Z aprendeu a amar. Não se sabe por quê. Há teorias de que o vírus que o infectou na mordida de um outro zumbi houvera sofrido uma metamorfose, como os vírus são sempre capazes de fazer. Entretanto, isso é apenas uma hipótese, mas é a mais aceitável, já que Z consegue articular algumas poucas palavras, criar linhas de raciocínios e, decorrente disso, amar. Não um amor que envolva zelo ou nada disso, apenas um prazer em contatos corporais.

Isso significa que Z só se alimenta de cérebros humanos quando sente fome, diferentemente do restante dos zumbis, que, basicamente, só vivem para isso. Se sente fome, mata qualquer um que encontrar em meio ao holocausto zumbi. Isso significa que a fome que sentia entre as refeições era outra - um sentimento.

Ele queria sentir prazer.

A mulher que fazia amor com ele, cujo nome não convém citar, tinha os seus distúrbios mentais. Quer dizer, quem em sã consciência toparia de tão boa vontade permitir que um zumbi, um ser morto, a tocasse da maneira como Z fazia? É claro que ela tinha uma leve tendência à necrofilia, um doença que "favorecia" mais os homens, já que não necessariamente precisariam de um corpo vivo para fazer o que devia ser feito. Para essa garota, Z era uma benção. Poderia transar com um morto que, de fato, "funcionava". Isso a enchia de prazer de uma maneira monstruosa, com todo perdão do trocadilho.

A garota sobre Z era louca.

Agora, Z e sua garota faziam amor como nunca. A garota tinha a energia de uma jovem que era, por isso, ficava em cima do morto. Z, que só tinha energia suficiente para permitir que o ato sexual funcionasse, permanecia parado, deitado, enquanto deleitava-se com o sentimento de prazer que a relação lhe proporcionava, algo não muito forte, mas suficiente para lhe causar um certo vício naquilo.

A garota subia e descia em puro êxtase. Ela adorava aquilo! A fantasia de fazer amor com um zumbi a possuía de tal maneira que não havia homem vivo que fosse capaz de causar tamanhas emoções que sentia durante aquilo. Ali, ela se sentia viva, completa.

- Eu te amo - ela chegou a sibilar em um dado momento.

E foi então que algo pareceu errado.

Z ficou parado, confuso. Enquanto isso, a garota sentia que suas pernas estavam molhadas com algo quente. Olhou para baixo e descobriu: era sangue quente. Com horror, percebeu que o 'membro' da criatura se soltara durante a movimentação e agora jazia encaixado dentro de si. Enquanto isso, o sangue gosmento do zumbi escorria por suas pernas, sujando o colchão em que o ato ocorria.

Assustada, a garota saiu correndo do cenário, traumatizada com o que havia acontecido. Nunca imaginou que fosse sofrer algo assim. Enquanto isso, Z olhava o céu com uma atenção em particular. Sentia fome, mas não a fome que alimentara a vontade de fazer amor com a mulher que há pouco estava ali. Queria comer cérebros. Agora, não tinha mais vontade de se relacionar sexualmente com ninguém, afinal, querendo ou não, Z acabara de ser castrado.

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Esse conto é uma demonstração do que eu sinto sobre um romance entre um zumbi e uma garota normal, algo que será retratado em livro e filme por Isaac Merion, em 'Sangue Quente'.

Um comentário:

  1. Eu gostei! Não diria que foi amor; tanto da parte do zumbi quanto da maluca da moça, rs. Mas se houvesse amor entre zumbis e seres humanos, provavelmente aconteceria desse jeito. Você tem um jeito muito especial com as palavras, o que torna o conto ainda mais interessante!

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