sábado, 28 de maio de 2011

O Imperfeito vs O Perfeito



Oh, lá vai ela...

A GAROTA da balada. Linda, os cabelos negros como seria os da Branca de Neve se de fato existisse, a pele bronzeada, resultado do sol que tomara em uma viagem recente à praia. Meu deus, estou longe dela agora, mas, mesmo daqui, consigo imaginar como deve estar perfumada. Quer dizer, ela sempre anda assim, não é uma menina de não se preocupar com a aparência. É tão vaidosa que chega a ser doentio.

E lá vai ela cruzando o salão lotado, as luzes passando por seu corpo vestido, aliás, que corpo perfeito! As mãos que se movimentam conforme a música esbarram nela a todo momento, mas duvido que esses toque sejam de todo inocentes. Ou será que os homens que por ali estão são burros o bastante para não aproveitarem a estadia da garota e lhe arrancarem algumas lascas? Eu mesmo o faria se estivesse naquela situação.

Ela está se aproximando de um rapaz que aparentemente está esperando com ela. O cara é um rapaz boa pinta, digo, não que seja bonito, mas tem uma presença legal, uma simpatia desigual, que, querendo ou não, o torna um cara bonito. Não vou ser hipócrita comigo mesmo para não admitir isso. Até porque ninguém consegue ouvir pensamentos, então, pra mim, posso dizer com toda certeza: aquele cara É melhor do que eu.

Ela anda até ele sorrindo, os cabelos esvoaçando, brilhando de alguma maneira misteriosa. Aliás, seu sorriso brilha. Deve ser o encanto que possui que lhe dá essa aura de deusa tão poderosa. Assim que finalmente chega ao rapaz, ela lhe concede um beijo na bochecha. O rapaz, apesar de perceber que o beijo, inicialmente, é amistoso, ao se afastar, abre um sorriso um tanto malicioso. Confesso que senti raiva dele, afinal, as intenções dele para com a moça estão totalmente claras no seu sorriso!

Eu nunca que conseguiria ganhar dele em um embate amoroso. Se amássemos a mesma pessoa, ele certamente ganharia de mim. É o que o destino diz! Além de ser um cara bonito e charmoso, ele é inteligente, trabalhador, um bom companheiro, um excelente amigo. Não há quem não seja cativado por ele. Existem horas em que eu acho que ele é gay, afinal, céus, as meninas o rodeiam como se ELE fosse o tal deus de que estou falando! É revoltante!

E eu, o que sou? Um canalha. Nunca me apeguei a nenhuma menina. Não sou inteligente. Não pretendo crescer em qualquer carreira, só quero trabalhar para ganhar o dinheiro para comprar as minhas coisas e fazer minha vida, não quero estudar, tenho raiva e professores - já gritei com vários nas aulas que tive, não consigo segurar a minha inquietação - e tudo o que quero pra minha vida é felicidade, nem que ela seja encontrada naquele cigarro de maconha que fumo quando o estresse se apossa de mim.

Eu sou um cafajeste, mas sei que a felicidade, nesse momento, está naquela menina que anda tão graciosamente. Ela se despediu do rapaz e está vindo na minha direção. O seu sorriso está maior do que nunca. Ela vai falar comigo. Ela vai falar comigo.

Ela pegou no meu ombro e me beijou com ternura. Eu agarrei seus cabelos e a puxei mais pra perto, beijando-a com todo meu amor, e ela me permitia, como se já tivéssemos intimidade, como se já nos conhecêssemos há dias!

E de fato nos conhecemos. Prazer, essa garota perfeita é a minha namorada. E o cara simpático é apenas um amigo dela.

Pra você ver o que o destino prega peças nas pessoas. Eu, o imperfeito, com a garota mais perfeita do mundo, que preferiu a mim do que ao homem perfeito. Quem disse que é preciso ter todos os traços bons que a sociedade prega para conseguir o que se quer de verdade? Olha aí, nem fiz esforço e estou com a melhor menina do mundo!

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Um Zumbi Apaixonado 2


Ele olhava para ela e ela, para ele.

Z, o zumbi, estava de frente para aquela que, tinha certeza, era a sua alma gêmea. Não que a moça fosse um zumbi - não era -, mas a sua mente, um pouco danificada por conta dos instintos zumbis que lhe foram concedidos assim que adiquiriu a "doença", lhe dizia algo similar a isso, como se insistisse que ele devesse ao menos tentar avançar em cima da garota, embora não para comer seu cérebro, como dizia a regra.

A garota, muito bonita, diferentemente da outra vadia que havia abandonado o pobre zumbi, fora simpática ao aceitar o convite de Z para uma conversa. Não que houvesse tido um convite formal, por telefone, carta ou qualquer coisa assim - Z não tinha capacidade de fazer essas coisas. O que aconteceu foi que, enquanto andava cautelosamente em direção a sua casa, a garota havia sido abordada pelo zumbi. O convite, que estava escrito no olhar nojento do zumbi, só fora aceito depois de algumas guarda-chuvadas bem acertadas na cabeça do morto.

Embora aparentasse estar tranquila, a garota não estava.

Tinha medo do que os instintos do zumbi a sua frente pudessem lhe causar. Quer dizer, até então, tinha ouvido histórias provindas de culturas sobre zumbis que diziam que se um zumbi lhe parava no meio da rua, certamente era porque você iria morrer em seguida. Talvez fosse por isso que, até então, a garota nem mesmo tinha imaginado que as intenções de Z para com ela fossem totalmente diferentes das que imaginava.

Zumbis não amam, dizia seus valores morais.

O olhar caído de Z a fitava com nenhum sentimento aparente, entretanto, seus lábios se moviam com expectativa, como se quisessem... como se quisessem...

Oh, meu deus, ele quer me beijar!, a garota pensou, espantada. Não conseguia acreditar no que seus olhos viam. Mas a pior parte ainda estava por vir.

- E-eu... T-te... amo - disse a moribunda voz de Z.

A garota arregalou os olhos de tal maneira que até mesmo Z achou aquilo estranho. Levando a mão ao peito, ela mal podia acreditar no que seus ouvidos ouviam. Quer dizer, deveria haver algum erro, talvez aquilo não fosse um zumbi, fosse apenas alguém fantasiado como tal, tentando enganá-la como naquele programa da MTV, o Punk'd. Não havia outra explicação.

Se bem que, meu deus, esses ferimentos parecem tão reais... Olhe como esse olho pende sobre o seu rosto! E esses dedos tortos, quebrados, esse maxilar pendente, fora do lugar, e esses dentes que se parecem mais grãos de milhos prontos para se soltar de uma espiga! E esse cheiro de gente morta, minha nossa, isso deve ser real! Se não for real, meus parabéns a quem criou isso!

E foi então que a mão de Z se ergueu e foi em direção a da garota, que jazia pousada em cima do seu busto.

- Não! - ela disse, sem hesitar. - Você só pode estar de brincadeira! Quem, nesse mundo, se apaixonaria por um zumbi! Oh, meu deus, você é repugnante! É doentio! Saia de perto de mim agora, não quero nada com alguém que já deixou essa vida e ainda insiste em "viver", mesmo com esse seu rosto horrível! Com licença!

De maneira histérica, a garota saiu correndo e gritando.

Se tivesse lágrimas e um pouco de orgulho, Z, certamente, estaria chorando.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Um Zumbi Apaixonado


O zumbi não sabia o seu nome, nem mesmo a mulher que estava sobre ele nesse exato momento. Por conta disso, e por conta da impessoalidade que existe em amar alguém que não tem nome, ela, bondosamente, passou a chamá-lo apenas de Z. Ele não tinha nenhum sentimento especial por esse nome - aliás, nem sabia para que servia. Mas para ela isso era de suprema importância.

Z aprendeu a amar. Não se sabe por quê. Há teorias de que o vírus que o infectou na mordida de um outro zumbi houvera sofrido uma metamorfose, como os vírus são sempre capazes de fazer. Entretanto, isso é apenas uma hipótese, mas é a mais aceitável, já que Z consegue articular algumas poucas palavras, criar linhas de raciocínios e, decorrente disso, amar. Não um amor que envolva zelo ou nada disso, apenas um prazer em contatos corporais.

Isso significa que Z só se alimenta de cérebros humanos quando sente fome, diferentemente do restante dos zumbis, que, basicamente, só vivem para isso. Se sente fome, mata qualquer um que encontrar em meio ao holocausto zumbi. Isso significa que a fome que sentia entre as refeições era outra - um sentimento.

Ele queria sentir prazer.

A mulher que fazia amor com ele, cujo nome não convém citar, tinha os seus distúrbios mentais. Quer dizer, quem em sã consciência toparia de tão boa vontade permitir que um zumbi, um ser morto, a tocasse da maneira como Z fazia? É claro que ela tinha uma leve tendência à necrofilia, um doença que "favorecia" mais os homens, já que não necessariamente precisariam de um corpo vivo para fazer o que devia ser feito. Para essa garota, Z era uma benção. Poderia transar com um morto que, de fato, "funcionava". Isso a enchia de prazer de uma maneira monstruosa, com todo perdão do trocadilho.

A garota sobre Z era louca.

Agora, Z e sua garota faziam amor como nunca. A garota tinha a energia de uma jovem que era, por isso, ficava em cima do morto. Z, que só tinha energia suficiente para permitir que o ato sexual funcionasse, permanecia parado, deitado, enquanto deleitava-se com o sentimento de prazer que a relação lhe proporcionava, algo não muito forte, mas suficiente para lhe causar um certo vício naquilo.

A garota subia e descia em puro êxtase. Ela adorava aquilo! A fantasia de fazer amor com um zumbi a possuía de tal maneira que não havia homem vivo que fosse capaz de causar tamanhas emoções que sentia durante aquilo. Ali, ela se sentia viva, completa.

- Eu te amo - ela chegou a sibilar em um dado momento.

E foi então que algo pareceu errado.

Z ficou parado, confuso. Enquanto isso, a garota sentia que suas pernas estavam molhadas com algo quente. Olhou para baixo e descobriu: era sangue quente. Com horror, percebeu que o 'membro' da criatura se soltara durante a movimentação e agora jazia encaixado dentro de si. Enquanto isso, o sangue gosmento do zumbi escorria por suas pernas, sujando o colchão em que o ato ocorria.

Assustada, a garota saiu correndo do cenário, traumatizada com o que havia acontecido. Nunca imaginou que fosse sofrer algo assim. Enquanto isso, Z olhava o céu com uma atenção em particular. Sentia fome, mas não a fome que alimentara a vontade de fazer amor com a mulher que há pouco estava ali. Queria comer cérebros. Agora, não tinha mais vontade de se relacionar sexualmente com ninguém, afinal, querendo ou não, Z acabara de ser castrado.

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Esse conto é uma demonstração do que eu sinto sobre um romance entre um zumbi e uma garota normal, algo que será retratado em livro e filme por Isaac Merion, em 'Sangue Quente'.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Um Bom Dia ou uma Lufada de Ar?


Segunda-feira nublada pós-fim de semana bem conturbado, que me deixou bem ocupado, me impedindo até mesmo de dormir as horas necessárias de sono para que eu acorde bem. Acordar mal humorado é inevitável, pelo menos pra mim, já que não há nada que, de forma alguma, seja capaz de me conceder uma boa perspectiva do que o dia tem a me trazer. Nada.

Além do mais, estou com gripe. E dor de garganta. Estou tossindo muito. Respirar sem tossir é um obstáculo árduo que tenho enfrentado durante as minhas últimas horas (talvez meus últimos dias) de vida passadas. É um verdadeiro empecilho, uma pedra no sapato (ou deveria dizer na garganta?).

Daí vem o meu incrível mal humor. Estou tão mal humorado que estou inspirado, embora a inspiração esteja voltada para incríveis reclamações sobre a vida, cada vez mais criativas. Eu mesmo rio do que penso e do que escrevo. É tudo tão absurdo.

E eis que, enquanto reflito sobre essas coisas, alguém passa na minha frente e deseja um bom dia. A saudação veio junto com um sorriso, jovial, verdadeiro, você vê que a pessoa quis, de fato, desejar que você tivesse um bom dia.

Os acontecimentos a seguir ocorreram em uma pequena fração de segundo.

Pensei "Essa pessoa é importante pra mim?", e não obtive resposta, os olhos continuaram vidrados na tela do computador. Eu tossi.

E tossi.

Minha voz ficou falha, e eu precisava respirar para recuperar o fôlego. A pessoa passou, ainda olhando meu rosto, esperando a resposta do bom dia (o que seria um pouco egoísta, se refletirmos sobre o assunto), mas tudo o que mantive foi o silêncio.

Minha garganta pigarreava. Eu precisava respirar para colocar o meu pulmão e as secreções na minha garganta no lugar.

Não respondi. Respirei fundo uma, duas, três vezes. Fui tomado de alívio.

Se um bom dia fosse um feitiço ao invés de uma simples saudação, eu com certeza teria um bom dia, mas a pessoa que teria me enfeitiçado com isso, não. Não houve aquele que lhe desejou um bom dia, e isso pelo simples fato de quê, entre ser educado e respirar, eu preferi respirar.

Porque isso ainda me mantém vivo.