quarta-feira, 25 de maio de 2011

Um Zumbi Apaixonado 2


Ele olhava para ela e ela, para ele.

Z, o zumbi, estava de frente para aquela que, tinha certeza, era a sua alma gêmea. Não que a moça fosse um zumbi - não era -, mas a sua mente, um pouco danificada por conta dos instintos zumbis que lhe foram concedidos assim que adiquiriu a "doença", lhe dizia algo similar a isso, como se insistisse que ele devesse ao menos tentar avançar em cima da garota, embora não para comer seu cérebro, como dizia a regra.

A garota, muito bonita, diferentemente da outra vadia que havia abandonado o pobre zumbi, fora simpática ao aceitar o convite de Z para uma conversa. Não que houvesse tido um convite formal, por telefone, carta ou qualquer coisa assim - Z não tinha capacidade de fazer essas coisas. O que aconteceu foi que, enquanto andava cautelosamente em direção a sua casa, a garota havia sido abordada pelo zumbi. O convite, que estava escrito no olhar nojento do zumbi, só fora aceito depois de algumas guarda-chuvadas bem acertadas na cabeça do morto.

Embora aparentasse estar tranquila, a garota não estava.

Tinha medo do que os instintos do zumbi a sua frente pudessem lhe causar. Quer dizer, até então, tinha ouvido histórias provindas de culturas sobre zumbis que diziam que se um zumbi lhe parava no meio da rua, certamente era porque você iria morrer em seguida. Talvez fosse por isso que, até então, a garota nem mesmo tinha imaginado que as intenções de Z para com ela fossem totalmente diferentes das que imaginava.

Zumbis não amam, dizia seus valores morais.

O olhar caído de Z a fitava com nenhum sentimento aparente, entretanto, seus lábios se moviam com expectativa, como se quisessem... como se quisessem...

Oh, meu deus, ele quer me beijar!, a garota pensou, espantada. Não conseguia acreditar no que seus olhos viam. Mas a pior parte ainda estava por vir.

- E-eu... T-te... amo - disse a moribunda voz de Z.

A garota arregalou os olhos de tal maneira que até mesmo Z achou aquilo estranho. Levando a mão ao peito, ela mal podia acreditar no que seus ouvidos ouviam. Quer dizer, deveria haver algum erro, talvez aquilo não fosse um zumbi, fosse apenas alguém fantasiado como tal, tentando enganá-la como naquele programa da MTV, o Punk'd. Não havia outra explicação.

Se bem que, meu deus, esses ferimentos parecem tão reais... Olhe como esse olho pende sobre o seu rosto! E esses dedos tortos, quebrados, esse maxilar pendente, fora do lugar, e esses dentes que se parecem mais grãos de milhos prontos para se soltar de uma espiga! E esse cheiro de gente morta, minha nossa, isso deve ser real! Se não for real, meus parabéns a quem criou isso!

E foi então que a mão de Z se ergueu e foi em direção a da garota, que jazia pousada em cima do seu busto.

- Não! - ela disse, sem hesitar. - Você só pode estar de brincadeira! Quem, nesse mundo, se apaixonaria por um zumbi! Oh, meu deus, você é repugnante! É doentio! Saia de perto de mim agora, não quero nada com alguém que já deixou essa vida e ainda insiste em "viver", mesmo com esse seu rosto horrível! Com licença!

De maneira histérica, a garota saiu correndo e gritando.

Se tivesse lágrimas e um pouco de orgulho, Z, certamente, estaria chorando.

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