Olhei para o fruto sob a macia superfície do guardanapo, um filete de luz branca contornando os horizontes do redondo alimento. Não, espera, acho que não é uma fruta; deve ser um tomate. Não, esquece, tomate também é uma fruta, embora pareça mais um legume do que uma fruta. Se bem que não tem quase semelhança nenhuma com o chuchu ou com uma cenoura, e nem mesmo com uma abóbora. Ops, aí vou eu me enganando de novo: abóbora também é uma fruta.
Entre para rir, entre pra chorar. Entre para se entreter, mas entre principalmente para ler.
terça-feira, 22 de junho de 2010
Afinal, é maçã ou tomate?
Olhei para o fruto sob a macia superfície do guardanapo, um filete de luz branca contornando os horizontes do redondo alimento. Não, espera, acho que não é uma fruta; deve ser um tomate. Não, esquece, tomate também é uma fruta, embora pareça mais um legume do que uma fruta. Se bem que não tem quase semelhança nenhuma com o chuchu ou com uma cenoura, e nem mesmo com uma abóbora. Ops, aí vou eu me enganando de novo: abóbora também é uma fruta.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Alguns Quilos À Mais e Uma Paixão
terça-feira, 4 de maio de 2010
Bill e Seus Estranhos Presságios
Olá, meu nome é Bill. O que eu vou contar é verídico, embora eu duvide muito que alguém vá acreditar. Eu tenho uma espécie de presságio incomum. Sim, vocês podem até achar que sou louco, mas esse presságio é mesmo incomum.
Se me acidento, é sinal de que vou perder dinheiro. Mas não é uma quantia simplória como você deve estar pensando. E o acidente não é simples também, não.
Descobri isso quando, certa vez, na minha cozinha, eu tentava cortar uma caixa de leite e cortei gravemente o meu polegar e o indicador. Fiquei tão desesperado que corri pela casa, sujando o chão de sangue, até que, finalmente, coloquei um algodão para estancar o sangramento. Meus dedos doíam em contato com o algodão e eu tremia. Mais tarde, nesse mesmo dia, eu fui ao shopping, os dedos envoltos em band-aids, quando fui surpreendido por dois assaltantes. Eu tinha 500 reais na minha carteira, mais o cartão da minha conta, com todo o meu dinheiro. Fiquei irritado nesse dia.
Outra vez, pegando o ônibus para ir ao trabalho, prendi o pé esquerdo na porta dele. Tudo bem, doeu um pouco, e quando a porta se abriu, eu o livrei. No entando, meu outro pé fora esmagado com o abrir da porta, e dessa vez doeu. Gritei de dor para o motorista e ele, desesperadamente, fechou a porta. Subi com dificuldade o degrau da entrada e fuji daquela maldita porta. Cheguei ao trabalho, trabalhei, separei um dinheiro bom para ir ao mercado e fazer as compras da casa e, quando voltei do almoço, meu dinheiro havia sumido. Simplesmente “saiu voando” da minha mesa.
Foi nesse momento que percebi a coincidência.
Em outro momento, andando de patins num parque aqui de São Paulo, acabei me acidentando e quebrei o pé. A dor foi gritante, não consigo descrever com palavras o que senti naquele momento. Com a ajuda dos meus amigos, fui ao hospital e, chegando lá, desembolsei uma fortuna para poder tirar uma radiografia, enfaixar o pé, tomar um anestésico, comprar os remédios, enfim, o plano de saúde me garfou um bom dinheiro. Querendo ou não, eu perdi dinheiro nessa brincadeira.
E ultimamente tenho tomado muito cuidado para não sofrer novos acidentes. Primeiro porque a dor é desgraçada, e segundo porque não tenho tanto dinheiro assim para sair perdendo à torto e à direito. Ainda mais agora que vejo pela janela o pessoal da prefeitura chegando para começar uma obra aqui na rua, usando enormes britadeiras, montando gigantescos andâimes, enfim, a rua está perigosa demais para ser encarada frente a frente.
E o dia das mães está aí. Minha mãe me pediu um iPhone para presenteá-la na data, portanto, com o intuito de evitar esse gasto desnecessário, liguei para o trabalho e informei que estou muito mal e que não posso trabalhar. Nesse caso, qualquer cuidado é muito pouco!
Estou fazendo errado?
segunda-feira, 26 de abril de 2010
"Mulher da Vida" Também Chora
Quando vi aquela mulher adentrando ao meu estabelecimento de trabalho, não tive outra reação a não ser ficar chocada. Quando me disseram que uma mulher chamada Wanderleia tinha marcado uma análise comigo no meu consultório, pensei que fosse qualquer mulher, ou até mesmo uma que lembrasse muito aquela cantora de mesmo nome. No entanto, a mulher era extremamente diferente.
Loira de cabelos volumosos e lábios avantajados, a mulher parecia enorme aos meus olhos. Os seios quase pulavam pra fora de tão grandes que eram e o grande decote não ajudava a controlar esse efeito. A meu ver, ela estava vestida para ir à balada. Se eu visse uma mulher dessas na rua, ou acharia que uma prostituta, ou que era um travesti.
Ela se sentou no divã com cuidado, como se tivesse medo de cair. Descalçou os tamancos que a deixavam tão alta e se deitou desconfortavelmente.
- Espero que possa me ajudar. – Ela começou com uma voz estridente. À primeira instância, me pareceu uma mulher muito fútil. – Estou com problemas terríveis...
Naquele momento, ela começou a chorar. Tomando cuidado para não espetar os olhos com as imensas unhas que carregava em cada dedo, ela começou a limpar as lágrimas estragando por completo a sua maquiagem.
- As pessoas não me levam a sério... – Ela falou e as lágrimas escorriam em jorros pelo seu rosto. – E eu não sei o porquê disso, mas tudo o que eu queria era que as pessoas olhassem pra mim e me vissem como uma pessoa normal...
Eu lhe diria que não havia como. Com os peitos pulando para fora da blusa e aqueles cabelos tão louros que pareciam luzir as luzes do consultório, não havia como levá-la a sério. Nem mesmo eu estava levando.
- Eu queria ser ouvida... – Os soluços lhe interrompiam a fala. – Eu queria muito que as pessoas entendessem que eu tenho sentimentos e que posso viver normalmente como qualquer outra pessoa...
- Mas o que exatamente está te acontecendo?
- Eu quero casar... – E interrompeu-se para despejar mais alguns litros de lágrimas. – Os homens olham pra mim e pensam que eu sou...
Prostituta?
- ... “Mulher da vida” – ela completou. – Mas eu não sou.
Assenti com a cabeça e esperei que ela completasse.
- Quer dizer, se ando assim com essas vestimentas é porque tenho um objetivo. Meu namorado falava que eu era tão linda que podia ser uma coelhinha da Playboy...
- Sim, você é uma menina bonita.
- E quero ser uma coelhina da Playboy. Tenho que alimentar meus filhos.
Tive o ímpeto de rir ouvindo àquilo, mas me recusei a ceder a tal impulso; seria deselegante da minha parte.
- E nenhum homem quer se casar comigo... – Ela continuou. – Ninguém me leva a sério. Querem-me apenas para...
- Entendo, senhora.
- ... Mas eu quero uma vida normal. Quero criar meus filhos com um pai amoroso do meu lado. É isso o que quero pra mim. Mas algo em mim parece impelir esse desejo de se tornar realidade... O que seria isso, doutora?
Eu não sabia o que dizer. Não, eu não sabia mesmo o que dizer.
A mulher começou a chorar mais intensamente, sua maquiagem ficando cada vez mais horrível. Escondendo o rosto atrás das mãos, ela soluçava tanto que parecia morrer a qualquer momento. Seus grunhidos estavam ficando cada vez mais estridente.
Comecei a sentir empatia pela moça.
O relógio em cima da minha mesa avisou o fim da sessão.
- Me desculpe, Wanderleia, mas a nossa sessão já acabou.
- Tudo bem, não tem problema. Muito obrigada por me ajudar, doutora. Vou vir aqui mais vezes...
Levantando-se cabisbaixa, a mulher se foi. As lágrimas continuavam a escorrer pelo seu rosto.
Quando a porta a minha frente fechou, senti uma coceira no meu olho. No mesmo instante, comecei a chorar.