Mas por que será que sou gorda?
Ah, claro, sou gorda porque como, é óbvio, e é a resposta que todos têm a me dar. Mas, então, por que é que eu como?
Pra saciar a minha fome? Não, não é apenas isso, senão nas minhas três primeiras garfadas, eu já estaria saciada, o que não acontece. Como é de gula, mesmo, não vou negar. Como e, mesmo saciada, quero comer ainda mais. Sou compulsiva!
Porém, há alguns dias atrás, algo me fez parar de sentir essa fome.
Na faculdade, indo para a minha aula, deparei-me com um rapaz que, de certa forma, me observou. Sim, ele parou seus olhos sobre mim e me vistoriou. Não, estou sendo hipócrita, ele apenas olhou na minha direção, e parar o olhar sobre mim já é uma coisa. Fiquei apaixonada, eufórica.
E minha fome se esvaiu.
De frente para as bandejas no restaurante da empresa, ao pegar um espátula para me servir, senti que não queria comer. Meu estômago embrulhou-se, mexendo seus lábios como se quisesse dizer "Não, não ponha nada aqui, não estão a fim!". E, obediente à sua ordem, não me servi de nada e não senti fome mais tarde.
Passei uma semana em frente à cantina onde minha amiga trabalha, observando aquele rapaz me observar ao longe. Era prazeroso, me deixava feliz. Mais e mais, fui deixando a comida de lado para apreciar aquele sentimento tão bom, nada mais parecia me saciar. E foi então que decidi me pronunciar para ele.
- Oi, tudo bem?
- Tudo bem. - Ele respondeu olhando ao redor. Provavelmente queria ver se estávamos a sós.
- Faz tempo que eu o vejo me olhando aqui na escola, e então resolvi falar com você. Você gostaria de me chamar pra sair?
Com cara de espanto, o lindo rapaz fitou-me e respondeu:
- Você deve estar enganada. Na verdade, nunca te vi nessa escola. Aqui, eu só tenho olhos para a mais linda garota que pode existir...
- Quem? - Indaguei.
- A menina da cantina.
Basicamente, a minha amiga.
E então descobri por que como tanto. Simplesmente, porque tento suprir sentimentos bons que eu poderia estar sentindo comendo. É tão eficaz que, quanto mais eu como, mais prazer eu sinto, e substituo perfeitamente essa paixão que eu não sinto.
Conclusão, estou à caminho da obesidade mórbida.
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