quinta-feira, 28 de julho de 2011

A Mentirosa Entrevista de Emprego!


- Qual é o seu nome? - perguntou o homem à minha frente, cujo nome eu não lembrava.

Entrevista de emprego. Lá estava eu, sentado de frente para um homem de aspecto autoritátio, aquele tipo de gente que dá medo de encarar, de causar má impressão, de falar a coisa errada e ser julgado errado. O que eu tinha que fazer era conquistá-lo para que a vaga fosse minha. Era necessário que eu calculasse bem as minhas palavras para que elas agradassem os ouvidos daquele que poderia vir a ser o meu novo chefe.

Me deseje sorte!

- Marcelo Rocha - respondi e sorri. Meus lábios tremularam com dois segundos de sorriso.

- Certo, Marcelo... Vamos começar a entrevista, então. Diga-me algumas das suas qualidades.

Ah, e lá vem a clássica pergunta!

Tenho muitas qualidades! Sei praticar esportes como ninguém - aliás, sou um ás do futebol. Meus amigos sempre querem que eu jogue em seus times em nossas peladas semanais, e eu sempre me saio bem - me garanto com a bola no pé. Poderia dizer que a minha pontaria é excelente, já que muito dificilmente erro algum gol. Se chuto na rede, já era, ponto para o meu time! Também sou um excelente líder, sei como tomar conta do nosso time de futebol - sou um excelente técnico, por assim dizer. Entretanto, no que isso somaria no que diz respeito às qualidades que a empresa procura?

Vou ter que mentir.

- Sou responsável - foi o que saiu da minha boca, porém, cá entre nós, está longe de mim ser uma pessoa responsável. Minhas contas atrasadas e perdas de compromissos diriam isso por mim. - E sou organizado, também - outra mentira. Se meu quarto pudesse ouvir o que estou dizendo, certamente estaria dando uma gostosa e sarcástica risada. As roupas espalhadas em cima da cômoda se sentiriam afrontadas diante de tal afirmação.

- Muito bem, muito bem. E poderia me citar alguns defeitos?

Defeitos? Ah, por favor!

Quem contrataria alguém com defeitos? Vamos combinar, defeitos eu tenho vários! Além da irresponsabilidade e falta de organização, sou preguiçoso. Sim. Acordar cedo é um processo lento e doloroso pra mim, até parece que eu e a cama temos um campo magnético só nosso, onde ela me atrai e eu a atraio, não conseguimos nos desgrudar enquanto a voz estridente da minha mãe não gritar o meu nome. Sou tão preguiçoso que não tomo banho de domingo, já que não faço nada de mais nesse dia. Sou tão preguiçoso que não faço o meu próprio alimento. Sou tão preguiçoso que faço trabalhos de escola de qualquer jeito só para garantir um C e me livrar logo disso. Mas será que isso atrapalharia o fato de eu poder ser escolhido naquele processo seletivo?

Mas é claro que sim! Quem contrataria alguém preguiçoso? Vou ter que mentir.

- Sou perfeccionista - foram as palavras que desenrolaram a partir da minha boca. Ah, a mentira! Onde eu seria perfeccionista, quando não dou a mínima para as coisas, desde que elas sejam práticas? De qualquer forma, quem se importa? Agora ele vai pensar que me importo tanto em fazer um trabalho bem feito que isso acaba sendo um defeito na minha vida. Ponto positivo para mim.

- Certo... - ele falou e seu olhar baixou para o meu currículo. - Fale-me um pouco sobre suas outras experiências profissionais.

Ah, as experiências profissionais...

Menti a maioria delas. Estou para trabalhar numa empresa que presta serviços de contabilidade para outras empresas e vou falar que trabalhei como carregador de galões de água, depois como atendente numa lanchonete do Habib's e até que fiz bico de natal para uma loja de roupas de surf? Jamais! Coloquei que já trabalhei com contabilidade antes, numa empresa não muito longe de casa, onde um amigo meu trabalha. Ele prometeu que me acobertaria caso acontecesse de o entrevistador entrar em contato com ele para verificar a veracidade das informações. Não tem como dar errado.

- Foi uma experiência muito boa - comecei falando. - Eu trabalhava fazendo contas - não existe problema nenhum em falar isso, afinal, todos nós sabemos fazer contas -, eu fazia cartas para os funcionários e para cartórios com o Word - qualquer um sabe mexer no Word, não tenho problema nenhum em afirmar isso -, eu verificava e preenchia planilhas do Excel - bang! Primeiro problema na minha fala: eu não sei mexer no Excel. Se tiver algum teste disso, certamente eu estarei ferrado - e fiz muito boas relações. - Que se dane se isso não for uma boa coisa!

- Está certo...

O entrevistador ficou olhando para o meu currículo durante um tempo que pareceu duas horas seguidas, sem dizer uma palavra sequer. Enquanto isso, eu só ouvia o incessante clic! que ele fazia ao apertar várias e várias vezes o botão da caneta que usava. Depois disso, ele olhou para mim e, sério, falou:

- Entraremos em contato com você.

- Ok. Muito obrigado - falei e me levantei para me retirar.

Não houve contato posterior. Esperei por duas semanas seguidas a resposta, mas não obtive nenhuma. Poxa vida, eu dei as melhores informações possíveis, criei um personagem de funcionário perfeito, que qualquer empresa contrataria, por que não fui chamado?

Será que foi porque menti?

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Moral da história:
Mentir para agradar alguém jamais vai dar certo, pois quem mente não consegue ser natural. Dizer a verdade só lhe traz segurança. Assumir quem você realmente é é uma excelente maneira de cativar quem quer que você queira cativar.

Um comentário:

  1. Mas convenhamos, não tem como não mentir pelo menos uma vez sequer numa entrevista de emprego! haha

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